Relatório 2019 Programa ABVTEX

Apresentação

O Programa ABVTEX completa nove anos como um esforço setorial de responsabilidade social corporativa e promoção de trabalho digno na cadeia de fornecimento das principais redes de varejo de moda do país. Ao longo desse período, 98 varejistas associadas à ABVTEX aderiram ao Programa como signatárias, assegurando que não vão adquirir mercadorias de fornecedores que não façam parte do Programa.

O acompanhamento é constante. O Programa monitora fornecedores e seus subcontratados quanto às boas práticas de compliance e segurança nas relações de trabalho, bem como o combate ao uso de mão de obra análoga à escrava, infantil e de estrangeiro irregular.

Diante de uma cadeia produtiva complexa, extremamente pulverizada, que requer investimentos em inovação, o Programa ABVTEX é de grande importância para o desenvolvimento e aprimoramento das pequenas e médias empresas, que compõem a maioria da base de fornecedores e seus subcontratados da cadeia produtiva da moda.

A busca de melhoria contínua levou a ABVTEX - Associação Brasileira do Varejo Têxtil a criar o Projeto Evolução (GIT) do Programa, concluído em 2019, com a conquista das suas metas principais. Os avanços do Programa vêm ao encontro dos temas mais sensíveis da atualidade, como a transparência, condições justas de trabalho e sustentabilidade.

Ainda como resultado do Projeto Evolução, o Programa ABVTEX conta com três categorias de selos de classificação – Ouro, Prata e Bronze – distribuídos de acordo com o novo protocolo de avaliação, cujo checklist lançado em 2019 foi ampliado, incluindo questões ambientais e de transparência e gestão da empresa, e está atrelado à visão de um consumidor mais consciente e mais atento ao comportamento das empresas, que cada dia mais precisam estar alinhadas com a responsabilidade socioambiental.

Este Relatório Anual do Programa 2019 apresenta os resultados, benefícios, desafios, objetivos estratégicos e o que pensam os participantes dessa iniciativa que vem contribuindo de forma eficaz para uma transformação profunda da cadeia de moda.

Mensagem

Ao olharmos para trás, nos damos conta de que desde que foi criado em 2010, o Programa ABVTEX provocou mudanças significativas no universo da moda brasileira. Trouxe grandes benefícios ao setor têxtil e calçadista nas relações de emprego, no âmbito socioambiental, nas questões de bem-estar e saúde dos trabalhadores, além da segurança e cumprimento das normas em vigor. Mais do que isso, promoveu uma troca preciosa de conhecimento entre todos os elos da cadeia. Por conta de seus resultados, ganhou maturidade, consolidou-se e hoje é reconhecido pelo governo, entidades de classe, cadeia produtiva e seus trabalhadores, assim como pela sociedade civil, como a única ação de grande impacto no monitoramento da cadeia produtiva da moda, em âmbito setorial no país.

Sua primeira grande conquista foi a de reunir empresas altamente competitivas no mesmo propósito: a promoção da sustentabilidade da moda, gerando ações colaborativas entre elas. Desde então, 36.688 auditorias foram realizadas. Em 2019, 3.685 empresas foram aprovadas. Estas são as que abastecem as 98 varejistas nacionais e internacionais signatárias do Programa. 

Mas, sem dúvida, os grandes beneficiados foram os mais de 335 mil trabalhadores da indústria. Na visão do setor, o Programa ABVTEX tornou-se essencial para que grandes marcas do varejo de moda brasileiro garantissem, de alguma maneira, condições de trabalho adequadas em sua rede de fornecedores.Participar do Programa reforça o compromisso das signatárias e seus fornecedores de oferecer condições adequadas a seus empregados, respeitando a legislação trabalhista, de saúde e de segurança no trabalho. 

Em 2019 buscamos evoluir, trabalhamos em prol da melhoria constante do Programa sem, contudo, nos desconectarmos dos valores que norteiam as ações das empresas do setor, isto é, servir bem o consumidor brasileiro, dentro da legalidade e ética. É esse desafio que nos motivou em cada dia do ano que passou, cujos resultados estão retratados nesse relatório. 

Boa leitura!

Conselho Diretor

Desenvolvimento Sustentável

Contribuir efetivamente para o desenvolvimento sustentável da cadeia de valor da moda de forma abrangente, competitiva e intensiva, gerando valor para o negócio e para toda a sociedade. Essa é a visão que a ABVTEX busca concretizar até 2022. Um dos grandes instrumentos para que esse objetivo vire realidade é o Programa ABVTEX, um esforço setorial de responsabilidade social corporativa e promoção de trabalho digno na cadeia de fornecimento das principais redes de varejo de moda do país, que já conta com 98 marcas signatárias.

Criado há nove anos, o Programa monitora fornecedores e seus subcontratados quanto às boas práticas de compliance e segurança nas relações de trabalho, bem como o combate ao uso de mão de obra análoga à escrava, infantil e de estrangeiro irregular. As marcas signatárias assinam um termo de adesão e de compromisso assegurando que irão adquirir apenas mercadorias de fornecedores que façam parte do Programa e passem por auditorias de monitoramento realizadas pelos cinco organismos independentes, entre eles, ABNT, Bureau Veritas, DNV-GL, Intertek e SGS.



Situações Inaceitáveis

Trabalho Escravo

TRABALHO Infantil

TRABALHO ESTRANGEIRO IRREGULAR

Itens auditados

(anualmente)

CRIANÇAS NO LOCAL DE TRABALHO

MONITORAMENTO DA CADEIA PRODUTIVA

MONITORAMENTO E DOCUMENTAÇÃO

FORMALIZAÇÃO DA EMPRESA

LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO

MORADIA

HORAS TRABALHADAS

RASTREABILIDADE E SUBCONTRATAÇÃO

POLÍTICAS DE
COMPLIANCE

DISCRIMINAÇÃO, ABUSO E ASSÉDIO

COMPENSAÇÃO

SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO / PREVENÇÃO DE INCÊNDIO

MEIO AMBIENTE

Desde 2010, o Programa ABVTEX já realizou 36.688 auditorias. Em 2019, 3.685 empresas foram aprovadas, em 18 estados, abrindo novas portas para debate, promovendo articulações com entidades civis e governamentais no Brasil e no exterior e trazendo novas soluções para o desenvolvimento da cadeia de moda no país.

Os Pilares do Programa

Combater o trabalho análogo ao escravo, infantil e de estrangeiro irregular

Assegurar condições de trabalho dignas na cadeia de fornecimento do varejo de moda

Incentivar a adequação dos fornecedores por meio de auditorias de monitoramento

Promover o desenvolvimento e as melhores práticas de gestão de empresas

Quem Somos

O Programa ABVTEX tem como signatárias 98 marcas, entre elas as principais varejistas nacionais e internacionais, distribuídas em duas categorias Pleno e Em Desenvolvimento (em processo de aprovação dos fornecedores, em cumprimento do prazo de carência ou plano de ação para adequação de 100% da cadeia de fornecedores nacional aos requisitos do Programa). 

Benefícios: Por que o Programa
ABVTEX ajuda a fazer a diferença

PARA AS REDES VAREJISTAS SIGNATÁRIAS

→ Associar a marca à ética, respeito aos direitos humanos, combate ao trabalho análogo ao escravo e infantil, além de integrar uma iniciativa inovadora e reconhecida no país.

→ Liderar iniciativas voltadas à eliminação da precarização do trabalho combatendo a concorrência desleal.

→ Ter visibilidade e monitorar a cadeia de fornecimento por meio de auditorias realizadas por organismos de auditoria qualificados.

→ Acesso à plataforma online para gestão da cadeia de fornecedores.

→ Mitigar o risco de uso de mão de obra análoga à escravidão, infantil ou utilização de imigrantes irregulares pelos fornecedores.

→ Participar de fóruns de discussão com empresas do mesmo setor para troca de boas práticas e potencializar ações de desenvolvimento da cadeia produtiva de moda.

PARA OS FORNECEDORES E SEUS SUBCONTRATADOS DA CADEIA DA MODA

→ Habilitação para fornecer artigos de vestuário, calçados, acessórios, além de artigos têxteis para o lar para as redes varejistas signatárias.

→ Mitigação dos riscos de passivos trabalhistas.

→ Melhoria no ambiente de trabalho e redução de acidentes, conquistando maior retenção e melhoria do grau de satisfação dos colaboradores.

→ Abertura do mercado graças à conquista do Selo ABVTEX amplamente reconhecido como uma credencial em torno das melhores prática.     

→ Concorrência leal, uma vez que todos os fornecedores e subcontratados auditados têm as mesmas condições de fornecer aos varejistas.

As metas do Projeto Evolução do
Programa ABVTEX

Lançado em 2018 para promover a melhoria contínua do Programa ABVTEX, o Projeto Evolução (GIT) seguiu à risca o cronograma em 2019. Entre as principais metas alcançadas estão a adesão de 446 novas empresas fornecedoras ao Programa – dessas 186 não fornecem aos varejistas –; a inclusão de 18.990 trabalhadores no Programa; melhoria da imagem do Programa junto aos fornecedores e subcontratados, com o índice de favorabilidade saltando de 82,8% no início do Projeto GIT para 89% no mês de julho, além da implementação de instrumentos de transparência previstos.

METAS PLANEJADAS
METAS ATINGIDAS

440 Novas unidades

446 Novas unidades

Otimização das auditorias da ABVTEX e das associadas

Redução de cerca de 7% no volume de auditorias realizadas por unidade

Aprovação junto aos Fornecedores e Subcontratados maior que 82,8%

Aprovação junto aos Fornecedores e Subcontratados 89%

COM BASE NOS QUATRO PILARES DO PROJETO, DIVERSAS AÇÕES FORAM CONCLUÍDAS:

ESTRUTURAÇÃO E GOVERNANÇA

Conclusão do primeiro ciclo de Auditorias de Observação (Shadow Audit) e Auditorias de Relatórios em todos os cinco Organismos de Auditoria, realizado entre novembro de 2018 e junho de 2019. As atividades são decorrentes da parceria firmada entre a ABVTEX e SAAS com o objetivo de atuar na avaliação técnica e qualitativa das auditorias do Programa ABVTEX, com foco em operações de Auditoria de Observação, Auditoria de Relatórios e Auditoria de Escritório dos Organismos de Auditoria para o gerenciamento, controle e aprimoramento dos processos realizados.
- Equipe dedicada ao Programa Contratação da Gerente.
- Novo Protocolo Foi concluído em julho de 2019 o processo de formatação de um novo protocolo com o objetivo de alinhar o Programa ABVTEX aos conceitos internacionais. Foi definido um formato de classificação das empresas aprovadas pelo nível de maturidade em responsabilidade social, cumprimento de regulações ambientais, além de consolidar todas as peculiaridades existentes nos programas de auditoria dos varejistas signatários. O novo modelo permitirá otimizar a multiplicidade de auditorias existentes na cadeia produtiva.



TRANSPARÊNCIA

As duas metas foram cumpridas, com a atualização diária no site da ABVTEX da Lista de Fornecedores e seus Subcontratados aprovados no Programa e a formulação e publicação da Política de Transparência do Programa ABVTEX com as regras para a divulgação de informações do Programa. A política foi publicada na versão 2.04 do Regulamento Geral e está disponível no site ABVTEX, na versão 3.01



EFICIÊNCIA E PRODUTIVIDADE

Colocando em prática o caráter inclusivo do Programa, a ABVTEX realizou uma ação de abertura para permitir que qualquer empresa da cadeia produtiva de vestuário, calçados, acessórios e artigos têxteis de cama, mesa e banho possa participar do processo de auditoria para receber aprovação. Até então apenas empresas que faziam parte da cadeia de fornecimento das empresas signatárias do Programa podiam participar do processo de auditoria. Foram adotadas ferramentas e indicadores para mensurar a quantidade de auditorias realizadas por empresa da cadeia de fornecimento dos signatários do Programa ABVTEX. Paralelamente, um Grupo de Trabalho com representantes dos varejistas definiu ações de otimização das múltiplas auditorias existentes na cadeia produtiva.



TECNOLOGIA

Dando continuidade às melhorias da plataforma sistêmica do Programa ABVTEX foram concluídas as mudanças estruturais e funcionais. Totalmente atualizada, a plataforma seguirá em avaliação para garantir suporte com qualidade ao Programa.

Embora não fizessem parte das metas iniciais previstas, não há como deixar de mencionar alguns bons resultados registrados em 2019, entre eles: a adesão de novos grupos varejistas ao Programa ABVTEX e o amadurecimento do grupo de varejistas signatários para trabalhar de maneira coletiva/colaborativa.

Novas Marcas Signatárias

Nove anos de bons resultados

Ao completar nove anos, o Programa ABVTEX tem muito o que comemorar. Registrou resultados expressivos no monitoramento e formalização da cadeia produtiva. Os números são impactantes:

335.394

 

Trabalhadores

36.688

 

Auditorias

3.685

Empresas
Aprovadas

618 MUNICÍPIOS
EM 18 ESTADOS

 

Abrangência

As histórias de transformação relatadas ao longo de uma década, as parcerias internacionais e o engajamento cada vez maior de grandes redes de varejo confirmam que a ABVTEX está no caminho certo. Mais do que isso, nos dão coragem para trabalhar mais fortemente no propósito de “Promover a moda sustentável, tornando-a mais acessível a partir do desenvolvimento de uma cadeia produtiva ética, responsável, inovadora, competitiva e transparente”.

Trabalho Reconhecido

O Programa ABVTEX comemorou pelo segundo ano consecutivo uma importante premiação que significa para a ABVTEX e suas associadas “um importante reconhecimento público para a iniciativa que vem transformando a cadeia de valor da moda”.

Edmundo Lima, diretor executivo da ABVTEX, recebe o Selo entregue por Marisa Fortunato, secretária adjunta da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania

O Selo de Direitos Humanos e Diversidade 2019-2020  foi concedido pela Prefeitura de São Paulo três das dez categorias instituídas - Mulheres, Infância e Adolescência, e Imigrantes - todas alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS da ONU). Entregue em 10 de dezembro de 2019, no salão nobre do Theatro Municipal de São Paulo, a premiação reconhece as boas práticas de inclusão no mercado de trabalho por parte de organizações públicas, privadas e do terceiro setor que atuam no município de São Paulo. São 10 categorias, todas alinhadas com os objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Selo ABVTEX agora
é Ouro, Prata e Bronze

Com o objetivo de destacar os níveis de maturidade das empresas na adoção de práticas de responsabilidade socioambiental do Programa, entraram em vigor, em 2019, as versões do Selo ABVTEX nas categorias Ouro, Prata e Bronze. As novas cores substituem o selo anterior, nas versões azul e verde, e poderão ser usadas por fornecedores e seus subcontratados mediante a realização da auditoria do novo checklist, em conformidade com o novo protocolo do Programa ABVTEX na versão 3.01.

Pesquisas mostram satisfação

Em julho de 2019, a ABVTEX realizou mais uma pesquisa de satisfação com o objetivo de aprimorar o Programa e identificar caminhos para fortalecer o processo de monitoramento da cadeia fornecedora e seu desenvolvimento. No total, foram 874 participantes, de 17 estados, com destaque para Santa Catarina (51%), São Paulo (19%) e Minas Gerais (9%), que pela segunda vez consecutiva atribuíram um índice de satisfação em relação ao Programa superior a 80%.

O índice de favorabilidade dos fornecedores, 89% dos entrevistados indicariam o Programa a outra empresa do setor e apenas 11% não recomendariam.

Entre os fatores apontados como importantes para a participação, independente do investimento necessário, estão:

MELHORIA NA ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DA EMPRESA

MELHORIA NA IMAGEM E CREDIBILIDADE

ABERTURA DE MERCADO E NOVOS NEGÓCIOS

CUMPRIMENTO DA LEGISLAÇÃO E SEGURANÇA EM QUESTÕES TRABALHISTAS, VANTAGEM COMPETITIVA

CONSCIENTIZAÇÃO RELATIVA À SUSTENTABILIDADE E TEMAS SOCIOAMBIENTAIS

Entre os participantes, 43% destacam que perceberam melhoras significativas na empresa; 32,6% garantem que notaram melhorias fundamentais para a sustentabilidade na empresa após a obtenção do Selo ABVTEX.

PERFIL DOS PARTICIPANTES
(NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS)


De Olho nas Regras

Um dos princípios básicos da Nova Economia é o trabalho colaborativo, a prática da cocriação. Foi seguindo exatamente essa tendência que a ABVTEX estruturou o Regulamento Geral 3.0 do Programa ABVTEX, que entrou em vigor em 29 de julho de 2019. O novo Protocolo é resultado da contribuição de varejistas signatários, fornecedores e seus subcontratados, representantes de organismos de auditoria e de entidades que integram o Conselho Consultivo do Programa, por meio de consultas realizadas no site da entidade.

O novo Protocolo promove o alinhamento com ferramentas globais, a adequação aos padrões socioambientais internacionais de certificação da cadeia produtiva e engloba as especificações das redes varejistas signatárias do Programa.

O novo Regulamento Geral não apresenta mudanças significativas nos critérios mínimos para aprovação ou reprovação das empresas nas auditorias, as quais serão aplicadas apenas no momento da renovação da aprovação. A nova classificação em Ouro, Prata e Bronze ocorrerá apenas mediante a realização da auditoria no novo checklist.

Entre as principais alterações propostas no novo Protocolo estão:

- Ampliação do checklist com a inclusão de questões ambientais e de governança/compliance.

- Classificação dos fornecedores e seus subcontratados nas categorias Ouro, Prata e Bronze conforme o atendimento aos requisitos socioambientais. Cada empresa irá se adequar à aprovação nos requisitos de acordo com a classificação na categoria almejada. Assim, a ABVTEX espera destacar os níveis de maturidade das empresas na adoção das práticas de responsabilidade socioambiental.

Combate à pirataria e à informalidade
numa cadeia complexa

Enquanto a discussão da ética e da transparência não sair do discurso e efetivamente virar prática muitos serão os desafios a serem enfrentados por quem tem por objetivo combater a ilegalidade, a informalidade, a pirataria e trabalho análogo ao escravo. O desafio se torna ainda maior quando se trata de uma cadeia de fornecimento formada em sua maioria (95%) por micro, pequenas e médias empresas. Assim foi em 2019, assim tem sido há duas décadas desde que a ABVTEX foi criada.

Ao exigir o cumprimento da legislação fiscal/trabalhista, o Programa ABVTEX identifica onde estão as irregularidades e ajuda a coibir o desvio de conduta de empresários na busca por maior competitividade e lucro. Os prejuízos são grandes. Estimativas do Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade apontam que a perda dos setores empresariais e dos governos federal, estadual e municipal geradas pela sonegação fiscal representam aproximadamente R$ 115 bilhões ao ano.

Por isso, a ABVTEX faz questão de alertar as autoridades e a sociedade como um todo sobre os prejuízos que a concorrência desleal traz para o país. Fraude é crime e induz ao uso de mão de obra análoga à escrava e infantil em cadeias de fornecimento como as dos setores de vestuário, calçados, cama, mesa e banho.

Mas, por outro lado, a entidade tem ciência de que a Legislação Trabalhista e Fiscal Brasileira é cara e burocrática, que as licenças exigidas para regularização das atividades têm custo elevado e, muitas vezes, são difíceis de conseguir.

A adesão às boas práticas do Programa ABVTEX é, com certeza, uma importante ferramenta para a formalidade das empresas do setor e para o crescimento de uma moda mais sustentável do ponto de vista social e econômico.

Potencial de Melhores Práticas

A análise fria dos números muitas vezes não reflete a real evolução do setor. A média de crescimento anual acima de 3% prevista para a indústria da moda brasileira para os três últimos anos não se confirmou. As razões são inúmeras, desde as oscilações político-econômicas que brecaram o avanço da economia até as próprias características do setor altamente pulverizado, com predominância de micro e pequenas empresas, que ainda patinam na busca por inovação. Entretanto, o cenário começa a apresentar mudanças, com o início da recuperação no número de postos de trabalho e aumento na produção.

Formada por basicamente micro, pequenas e médias empresas, que respondem por mais de 95% do setor, a indústria têxtil e de confecção tem na pulverização um dos seus maiores desafios, seja para a adoção de boas práticas, seja para a padronização da produção e legalização das atividades. Das 34.965 empresas de vestuário, meias e acessórios listadas pelo IEMI - Inteligência de Mercado no país (incluindo-se nessa lista oficinas a partir de 1 funcionário que prestam serviços para a indústria) apenas 3.048 eram aprovadas pela ABVTEX até o fim de 2018, o equivalente a 8,72%. Portanto, há um mar de oportunidades para a adoção de boas práticas em todo o país.

Se olharmos com atenção por região, a região Sul é a que apresenta um percentual maior de empresas aprovadas, 22,61% (1.766) de um universo de 7.809 indústrias de vestuário. Na sequência vem o Sudeste, com 6,06%. Isto é, 1.078 entre 17.776 empresas e o Nordeste registra apenas 185 empresas aprovadas (2,99%) de um universo de 6.184 empresas. As regiões com maior potencial de trabalho são o Centro-Oeste, com apenas 0,62% de participação de unidades aprovadas e a Norte, com 0,42%.

“Fundada em 2008, com o compromisso de produzir produtos com criatividade e qualidade, a Zona Criativa, localizada em Guarulhos e especializada em almofadas, faz parte do Programa ABVTEX desde 2016. Em linhas gerais, o Programa ajudou nos processos e crescimento da empresa no mercado. As auditorias nas unidades auxiliam a melhorar os processos internos e impacta nos resultados e progressos. Além disso, nos trouxe melhorias sustentáveis com redução de custos internamente”

Keithe Lima de Araujo, coordenadora de Qualidade da Zona Criativa

Embora seja bastante pulverizada, a indústria da moda tem nos 670 municípios acima de 50 mil habitantes o seu principal endereço. Neles estão nada menos do que 31,5 mil empresas, ou seja, 90% de acordo com dados da RAIS.

Na região Norte, os estados do Pará e Rondônia reúnem o maior número de indústrias de vestuário, meias e acessórios, com 170 e 110 unidades, respectivamente. Mas é no Tocantins que se encontram as duas únicas empresas aprovadas ABVTEX, entre as 70 em operação. No Nordeste os líderes são Ceará (2.269) e Pernambuco (1.842), porém apenas 58 delas são aprovadas no Ceará e 21 em Pernambuco. São Paulo, por sua vez, é o estado com o maior número de empresas do setor na região Sudeste e no país, com 11.042 empresas, destas 734 aprovadas, seguido por Minas Gerais com 3.251 (215 aprovadas) e Rio de Janeiro com 2.767 (94 aprovadas). Por fim, na região Sul, Santa Catarina responde pelo maior polo do setor, com 4.005 empresas, destas 1.546 aprovadas, seguida pelo Rio Grande do Sul, com 1.419 indústrias, sendo 85 aprovadas.

“Desde 2013, a SRJ Confecção, com 280 funcionários, localizada em Caruaru (PE), faz parte do Programa ABVTEX. Sempre agiu corretamente, mas a certificação fortaleceu positivamente a regularização e organização da empresa. Pernambuco sempre foi muito falho com a sistemática do trabalhador e o selo ajudou na legalização e adequação das leis, principalmente para a SRJ. Começamos a pensar em sustentabilidade e passamos a contar com uma corporação que coleta os retalhos e reutilizar o material fazendo fios de redes”

Virginia Marilia Cordeiro Gomes, gerente administrativo da SRJ Confecção.

O que diz o SEBRAE

O setor como um todo, na avaliação do Sebrae, ainda precisa de muito apoio para ampliação de profissionalismo, produtividade e capacidade de atendimento. As micro e pequenas empresas não têm uma capacidade ociosa que suporte um aquecimento relevante no varejo. Além disso, a inserção de maquinário mais moderno é um desafio que envolve, além da capacitação, a oferta de crédito.

Para Verônica Tavares, da coordenação Nacional da Cadeia de Valor da Moda do Sebrae Nacional, a adoção das boas práticas, enfatizada pelo Programa ABVTEX, é uma boa oportunidade para as empresas brasileiras se inserirem com produtos de valor agregado e diferencial competitivo tanto no mercado nacional quanto no internacional.

“O Brasil é um dos únicos países que detém toda a cadeia produtiva da moda localmente”, diz Verônica. “Utilizar as boas práticas em gestão, sustentabilidade e inovação nos colocará em um nível de atuação avançado e competitivo”. Segundo ela, as micro e pequenas empresas, que respondem por mais de 90% das empresas do setor, são as grandes beneficiadas da adoção de boas práticas, uma vez que, por serem menores, têm maior gerência sobre seus processos.

Os exemplos da mudança provocada pela adoção de boas práticas se multiplicam por todo o país, como bem lembra Verônica. “Com uma única consultoria de layout e 5S em uma pequena confecção, uma das principais fornecedoras de uma grande varejista nacional, foi possível aumentar a produtividade em 157%”, revela. “Percebemos, portanto, que capacitação é algo relevante para todos.”

Sem contar que o compartilhamento entre as empresas de práticas e serviços já testados e com resultados positivos gera um ecossistema de atuação em rede. “Esse compartilhamento depende de poucos recursos e tecnologia e causa significativo impacto no setor”, afirma a executiva do Sebrae.

Pisando Firme

Com uma produção de 944 milhões de pares em 2018 e um faturamento que superou R$ 28 bilhões, a indústria calçadista brasileira vem se recuperando pouco a pouco do impacto provocado pela instabilidade econômica registrada desde 2015. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), o consumo per capta está na casa dos quatro pares/ano por habitante. O setor soma 5.841 indústrias (registradas na RAIS), a grande maioria, 1.125, de pequeno porte, e apenas 81 consideradas grandes. Juntas, empregam 255.567 pessoas. O Ceará é o maior produtor de calçados do país, com 259 milhões de pares de plástico e borracha fabricados em 2018, enquanto o Rio Grande do Sul lidera a produção de calçados de couro, com 190 milhões de pares.

“Nádia Talita está no mercado há mais de 30 anos, tem cerca de 300 funcionários e está no Programa ABVTEX desde o ano de 2015. Esta certificação proporciona à empresa oportunidades de negócios com grandes clientes. As exigências do programa fazem com que a empresa esteja sempre regular em todos os aspectos profissionais e com uma grande responsabilidade social com seus colaboradores. A ABVTEX trouxe para a Nádia Talita um novo cenário, deixando o setor calçadista mais profissionalizado e respeitado no mercado”

Alessandra de Paula, departamento comercial da Nádia Talita Indústria de Calçados, localizada em Nova Serrana/MG

Assim como a indústria de vestuário e acessórios, o setor calçadista ainda carece da adoção de melhores práticas em suas linhas de produção. Entre as 5.841 indústrias em operação, somente 450 são aprovadas pelo Programa ABVTEX, ou seja, apenas 7,70%. Há muito o que ser trabalhado. A região Sudeste concentra o maior número de fabricantes, 2.848, destes, apenas 227 são aprovados (7,97%). Em segundo lugar vem a região Sul, com 2.280 indústrias, destas 173 aprovadas (7,59%). O Nordeste ocupa a terceira posição, com 519 indústrias e apenas 47 aprovadas (9,05%). No Centro-Oeste são 182 indústrias, apenas 3 aprovadas (1,65%), enquanto a região Norte registra a menor representatividade, apenas 12 indústrias e nenhuma aprovação.

Se levarmos em conta os municípios, veremos que a produção é concentrada. As 670 cidades com mais de 50 mil habitantes (12% dos municípios brasileiros) respondem por 69% da população e reúnem 70% das indústrias de calçados do país identificadas pela RAIS (4.000), gerando 65% das vagas de emprego do setor. O maior polo calçadista do país está no estado do Rio Grande do Sul, com 1.966 indústrias, dessas, 152 aprovadas, seguido por São Paulo com 1.731 indústrias (100 aprovadas) e Minas Gerais, que soma 1.061 indústrias (114 aprovadas). No Nordeste, destaque para o Ceará, com 242 indústrias (20 aprovadas) e Bahia com 106 fabricantes (11 aprovados). Goiás é o principal polo calçadista do Centro-Oeste, com 141 indústrias, porém, nenhuma aprovada, o mesmo acontecendo com as 12 indústrias da região Norte.

“A Indústria Comércio Calçados Três B, especializada em calçados femininos, zona leste de São Paulo, faz parte do Programa ABVTEX há três anos. O selo contribuiu para a empresa manter a organização e a documentação em dia, além de garantir a credibilidade com seus clientes com ações corretas internamente. Outro ponto a se destacar é a melhoria na questão sustentável da empresa, com correta destinação de resíduos”

Samanta Feijó Rodrigues, Departamento de faturamento da Indústria e Comércio de Calçados Três B Eireli

OPORTUNIDADE PARA CRESCER NO SETOR DE CALÇADOS

Estrutura da Governança

Assim como acontece com a ABVTEX, a estrutura do Programa ABVTEX também é baseada nos princípios da Governança Corporativa. É composta por:

EQUIPE ADMINISTRATIVA

GRUPO DE TRABALHO

COMITÊ GESTOR

COMITÊ DE ARBITRAGEM

CONSELHO CONSULTIVO

CONSELHO DIRETOR ABVTEX

EQUIPE ADMINISTRATIVA

Responsável pela operacionalização do Programa ABVTEX e cumprimento das atividades de cordo com o Regulamento, normas e procedimentos estabelecidos, além de acompanhar os indicadores de desempenho e os impactos positivos na cadeia de fornecimento.

GRUPO DE TRABALHO

Composto por um representante técnico de cada rede varejista signatária do Programa ABVTEX. Entre suas atribuições está o acompanhamento técnico/operacional do Programa e, com base nas observações de campo e regulamentações, estabelecer os requisitos e parâmetros de responsabilidade socioambiental, critérios e diretrizes, além de avaliar e validar tecnicamente as sugestões apresentadas pelos diversos agentes envolvidos com o Programa.

COMITÊ GESTOR

Composto por um representante titular e um suplente, designados pelos varejistas signatários, o Comitê Gestor responde pela deliberação das propostas de padrões de responsabilidade social, os critérios e metodologias do Programa oriundas do GT Fornecedores.
Ver depoimentos

COMITÊ DE ARBITRAGEM

Sua função é julgar administrativamente, no âmbito do Programa ABVTEX, situações de litígio, recursos ou omissões no Regulamento Geral, que venham a ser pleiteados por fornecedores, subcontratados ou outros agentes do Programa.

CONSELHO CONSULTIVO

ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO CONSULTIVO

- Analisar o Programa ABVTEX e seus requisitos, propondo alterações e melhorias, se necessário.
- Acompanhar a evolução do Programa ABVTEX e monitorar os seus resultados.
- Aconselhar o comitê gestor em casos especiais que demandem um parecer externo
- Apoiar a entidade na divulgação do Programa ABVTEX

É composto por integrantes do Comitê Gestor e por entidades representativas da sociedade que, por sua vocação e forma de atuação, possam contribuir para o desenvolvimento do Programa ABVTEX. São elas:
-Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit),
-Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados),
-Associação pela Indústria e Comércio Esportivo (Ápice),
-Comissão Estadual para a Erradicação do Trabalho Escravo (COETRAE/SP),
-Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Setor Têxtil, Vestuário, Couro e Calçados (Conaccovest),
-Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (Ethos),
-Instituto Observatório Social,
-Instituto Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo (InPACTO),
-Organização Internacional do Trabalho (OIT),
-Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae),
-Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco (Sindicato das Costureiras), e
-Universidade de São Paulo (USP).

CONSELHO DIRETOR ABVTEX

É o órgão administrativo estatutário da ABVTEX e autoridade máxima na hierarquia de governança do Programa ABVTEX. Atua como regulador e decisor quando demandado pelas demais estruturas de governança do Programa.

Além das Fronteiras

Em 2019, a ABVTEX deu passos importantes na busca pelo alinhamento do Programa ABVTEX às grandes discussões do cenário internacional sobre as boas práticas na cadeia produtiva e dividir conhecimentos relativos à cadeia de moda brasileira com membros de organizações internacionais. Um dos mais importantes foi a integração da entidade ao time de membros da ILO (International Labour Organization) na adesão ao ILO Global Business Network on Forced Labour (GBNFL). Trata-se de um importante fórum colaborativo para empresas, organizações empresariais e de trabalhadores com o objetivo de alavancar recursos unificados de informações para ações coletivas em prol do enfrentamento do trabalho forçado e do tráfico de pessoas.

“O fato da ABVTEX se juntar a essa iniciativa está em total sintonia com um dos temas estratégicos do Programa, que é o combate ao trabalho análogo ao escravo”, afirmou na ocasião Angela Bozzon, gerente do Programa ABVTEX. “Esperamos que o Programa possa contribuir com essa iniciativa global de maior relevância e que possa ter novos inputs de aprimoramento no combate ao trabalho análogo ao escravo.”

Como representante da América Latina e integrante do Conselho de Governança no GBNFL, a ABVTEX compartilhou a experiência do varejo brasileiro no monitoramento da cadeia de fornecimento no painel “Engajamento das pequenas e médias empresas, ferramentas inovadoras e novas abordagens de risco no trabalho forçado”, em Berlim, junto com a Apple, Mars e Malaysian Emplyers Federation.

ABVTEX apresenta o Programa no ILO Global Business Network on Forced Labour Meeting
Da esquerda para a direita: Marika McCauley Sine (Mars); Vidhi Aggarwal (Apple); Peter Hall (International Organisation of Employers); Angela Bozzon (ABVTEX); e Saraswhati Ravindran (Malaysian Employer Federation)
ABVTEX na Assembleia Geral da Sustainable Apparel Coalition em Barcelona

Dando continuidade às atividades internacionais, a ABVTEX participou, em Barcelona, na Espanha, do Encontro Anual da Sustainable Apparel Coalition (SAC), principal aliança global do setor têxtil, de vestuário e calçados, em prol da produção sustentável.

Rumo a 2022

A ABVTEX, em parceria com as varejistas signatárias, traçou o Planejamento Estratégico do Programa ABVTEX para o período entre 2018 e 2022, tendo por meta a melhoria contínua de processos e resultados

VISÃO

“Ser referência internacional, contribuindo efetivamente para o desenvolvimento sustentável da cadeia de valor da moda de forma abrangente, competitiva e inclusiva, gerando valor para o negócio e para toda a sociedade”

OBJETIVOS ESTRATÉGICOS

RECONHECIMENTO INTERNACIONAL

- Alinhamento com referências internacionais
- Elevar as exigências do Programa aos padrões internacionais



DESENVOLVIMENTO DA CADEIA DE VALOR

- Programa evolutivo socioambiental
- Inclusão de fornecedores, varejistas e demais elos da cadeia
- Melhor processo de desenvolvimento da cadeia de valor
- Apoio técnico para fornecedores e varejistas
- Capacitação e desenvolvimento de fornecedores
- Estreitar o relacionamento entre varejistas e fornecedores

COMUNICAÇÃO E TRANSPARÊNCIA

- Estratégia de comunicação com stakeholders, inclusive o consumidor
- Comunicação de resultados do Programa
- Divulgação da lista de fornecedores e subcontratados aprovados



RELAÇÕES GOVERNAMENTAIS E ADVOCACY

- Aumento da influência política
- Engajamento de governos e sociedade